Artigos


03/09/2010
Crônica - O ato de comer
                                  por Larissa Lins


O ato de comer


Ser gordo não basta, a graça é ter a alma de gordo! Tem coisa melhor do que se empanturrar com boa comida? Talvez outra coisinha apenas, mas já fica na área de outros prazeres. O pecado da gula é mais gostoso porque dá para cometer sozinha, se bem que o melhor mesmo é arrastar alguém para aumentar o peso com a gente.

Estava em um aniversário hoje mais cedo e tinha uma menininha linda, gordinha e simpática se acabando de tanto comer presunto. Pegava uma fatia e disfarçava, dava a volta na mesa para conferir se tinha alguém olhando, e pegava outro pedaço do embutido. Então, ela saía com a barriguinha ainda mais estufada e um sorriso de sapeca, desses bem fofinhos com direito a boca cheia!

Com o avançar da idade as coisas parecem envelhecer conosco. Queijos, pães, presuntos, chocolates, castanhas e etc. começam a entrar em crise e querem porque querem chamar de alguma forma atenção. Assim, depois de devorados viram uma enorme mochila acoplada na nossa barriga, é só você relaxar. Para que isso não aconteça tome academia neles! Esteira, bicicleta, puxa ferro daqui e empurra dali para no final passar pela baiana e comer um acarajé recheado e frito no dendê, acompanhado de uma cervejinha ou quem sabe de uma garrafinha de coca-cola, tudo muito light. Só para compensar as horas de tortura diária em meio a tantos espelhos e pesos.

Cinema pede pipoca e refrigerante, pode pedir também um sanduíche cheio de queijo. Aniversário pede bolo e brigadeiro, não importa a idade uma tortinha é bem-vinda. Sábado pede caranguejo e lambreta. Domingo uma “carninha”, um “franguinho”, uma lasanha, macarronada, moqueca. Ele pede uma coisa mais gordurosa, claro que pede! Saída na sexta à noite pode pedir tanta coisa... Quem sabe uma pizza? Mas ainda tem espaço para as frutas, sim, sim, sim! Kiwi, morango, melancia, ameixa, jambo, mangostão, acerola, pitanga, cacau até tamarindo (gosto de uma fruta azedinha, rsrsrs). O feijão com arroz da semana também é uma combinação com seu lugar de honra, basta ser bem preparadinha.

Morder um morango coberto com aquele creme branco e chocolate preto é êxtase total! Na primeira mordida a língua sente o sabor do azedinho da fruta com o doce do açúcar e produz saliva, se fechar os olhos dá para sentir o pedaço desfalecendo, derretendo na boca. É tão bom!

Dar a primeira garfada em um empadão de frango, em um quibe cru com coalhada seca, em um frango xadrez, arroz de polvo ou em um vatapá e não comentar com ninguém é muito frustrante. Como toda sensação de felicidade o prazer da comida é para ser compartilhado! Exploramos sozinhos e descobrimos juntos, com amigos, irmãos, família, namorado ou paquera. Boa comida pede boa companhia.

Eu sou mais a máxima de que o interessante é viver para comer do que aquela que diz justamente o contrário. O comer para sobreviver, graças a Deus, não entrou na minha lista. Além disso, ainda não elevei tanto meu espírito assim. O prazer da comida sempre esteve entre as satisfações da minha vida.


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23/08/2010
Crônica -  "Inspiração que vem dos vegetais"
                                         por Larissa Lins


Tempos atrás uma amiga me apresentou uma comunidade no Orkut intitulada de “Eu quero ser couve-flor”. A idéia é mais ou menos a seguinte, uma rosa gabando-se de sua beleza enumera e enaltece suas qualidades afirmando que é linda, romântica, perfumada, perfeita e coisa e tal. Esse discurso de supremacia é dirigido a uma couve-flor em uma tentativa frustrada de humilhar a leguminosa. Essa última ouve atentamente todas as sentenças da vaidosa flor. E ao final, sem fazer grande esforço, concorda com as afirmações da colega vegetal, então, indaga: “Mas, alguém te come”?

A história contada pela comunidade acaba aí, mas provavelmente a rosa deve ter se desfeito em prantos ao perceber a intensidade da afirmativa da couve. Mais ou menos o que aconteceu com ela quando teve aquela briga lá com o Cravo, na cantiga de roda “O Cravo brigou com a Rosa”. Não é todo dia que a gente está preparada para ouvir certas coisas.

Menina, desse dia para cá comecei a repensar na minha situação e decidi que chega dessa vida de rosa de jardim, de floricultura. Decidi ser leguminosa! Por que não tentar virar uma bela salada? Ou quem sabe um legume gratinado, aumentar um pouco mais a temperatura? Parecia uma idéia bastante atraente e parti nessa intenção, mas descobri logo na minha primeira experiência, que nem todo mundo agüenta essa vida pesada de couve-flor, de ser engolida aos pedaços, e depois despachada junto com todo o resto de alimentos também devorados. Não é lá tão emocionante assim, não.

Claro que ser apenas rosa é um pouco mais entediante, mas couve-flor também não dá, quer dizer, rsrsrs, não funciona. Não pra mim. O pior é que o problema não é só no Reino Vegetal, parece que o Animal pode ser bem pior com esse negócio de saciar a fome. O Mineral nem cogitei, não tenho sangue pra ser tão dura com uma pedra. Eu quero um meio-termo. Vamos voltar ao começo e procurar, sei lá, uma flor ou qualquer outra planta, fruto que sirva de exemplo. A maçã eu acho que não rola, já foi castigada demais pela história. E também (tadinha!) é comida aos pedaços. Mas, pelo menos uma só pessoa costuma devorá-la, todinha, inteira, com casca e tudo, né? Eh, talvez ela tenha lá suas vantagens...


*Larissa Lins é formada em jornalismo, pós-graduanda em Comunicação Organizacional e blogueira.





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09/07/2010

Mulheres de Ferro
                                           por Karen Loiola


Muitas transformações estão acontecendo na sociedade brasileira e com certeza a principal delas gira em torno das mulheres, que cada vez mais conquistam seu espaço através de sua competência, dedicação e empenho, não medindo esforços para encarar novos desafios. Se por um lado as mulheres assumiram funções importantes na esfera profissional e alcançaram posições sociais de respeito, por outro lado, na vida familiar, quase nada mudou.
As tarefas domésticas ainda recaem exclusivamente sobre as costas das esposa-mãe-profissional que, além de trabalhar fora para pagar as despesas, têm que arcar com a responsabilidade dos filhos, preparar a comida, lavar, passar e limpar. Ou seja, além da carga horária do trabalho, ainda tem os cuidados com os filhos e os afazeres domésticos. Já pararam pra pensar o quão corrido é a vida dessas mulheres? Como elas dão conta de tanta coisa? 24 horas é pouco? Quem nunca disse ou pensou que as 24 horas do dia são poucas pra tudo que se tem a fazer? Acordar, fazer café, arrumar as crianças para a escola, ficar linda, buscar as crianças na escola, ir pro trabalho, resolver os milhares de problemas que nem são seus, lembrar que se esqueceu de falar para empregada que o marido não gosta de ... UFA!!! É muuuita coisa!
Certa vez, conversando com uma mãe que trabalha fora, sua principal fonte de preocupação e culpa é de deixar o filho em casa quando sai para o trabalho. E com a mulher que abriu mão da carreira para cuidar das crianças? Talvez ela vá reclamar da monotonia de seu cotidiano, e da ausência de uma vida "só sua". Vendo dessa forma parece não haver uma escolha plenamente satisfatória. Em qualquer uma das situações, a mulher convive com uma culpa aparentemente intransponível que acompanha a maternidade. Atualmente está sendo muito difícil para a mulher moderna conseguir administrar os papéis que são exigidos dela: provedora, junto com o homem, na parte econômica; alicerce emocional da família; profissional bem-sucedida; mulher bem-resolvida.
Apesar de reconhecerem a dura rotina, algumas dessas mulheres espalhadas por todo o Brasil encaram essa sobrecarga com coragem e disposição. Embora sejam muitas as conquistas das mulheres ao longo das décadas, houve também muitas perdas. A mulher não pode estar o tempo todo no palco, agindo e fazendo. Ela necessita também do seu tempo para silenciar e cuidar de si mesma. E há uma enorme dificuldade da mulher em se permitir isso nos dias de hoje, o que pode gerar uma série de problemas de saúde, como estresse, depressão e grande desgaste físico. Então aí vai a dica: A mulher moderna precisa reservar um tempinho pra cuidar de si e delegar tarefas ao companheiro que mais do que nunca deve reconhecer o seu esforço e valor.


*Karen Loiola é psicóloga, professora e pós graduada em Terapia Comportamental Cognitiva